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O que de fato está acontecendo nesta eleição? | A esquerda comete o mesmo erro arrogante de Hillary | “Fascistisar” tudo o “que não é espelho”, é uma nítida evidência de intolerância, portanto de fascismo!

Em 29 de agosto publiquei um artigo evidenciando semelhanças entre Bolsonaro e Trump – e eu me restringi a apenas uma dúzia delas (reproduzo ele na íntegra ao final).

Uma significativa quantidade de feedback argumentava que Brasil e EUA possuem realidades extremamente distintas. Com todo respeito e benquerença, não é bem assim. Ficando apenas na seara de formação do Estado, ambos possuem o mesmo Sistema de governo (Presidencialismo); Forma (República); e Regime (Democracia).

Então, entendo que essa argumentada percepção de distinção é prioritariamente motivada pelo fato de que os fundamentos que apresentei não reforçam convicções e desejos íntimos. Afinal, há mais de vinte séculos, o filósofo grego Platão (cerca de 425–350 a.C.) sabiamente usou a alegoria da caverna (livro 7 da República) para explicar didaticamente o caminho agonizante para o mundo real.

As semelhanças entre a mais recente eleição Americana e esta eleição Brasileira vai muito além do que eu acentuei sobre Bolsonaro e Trump. Portanto, agora vou destacar uma realidade no extremo oposto. PT e parte da esquerda brasileira repetem parcela relevante dos quatro elementos-chave que levaram à derrota de Hillary Clinton, conforme comprovo no meu livro MUDA BRASIL (que será lançado dia 26/10).

Começando pelo tempero mortal, vou citar o ex-Secretário de Estado Americano Colin Powell: “Tudo que Hillary Clinton toca, ela meio que estraga com sua arrogância”. Então, essa arrogância que estraga tudo (o tempero mortal), tem feito o PT e parte da esquerda brasileira usar o substantivo “fascismo” e o adjetivo “fascista” com uma desenvoltura estonteante. Qualquer um que ouse pensar um pouco diferente, é logo taxado de fascista!

Em uma guerra de palavras, podemos intimidar e censurar nossos adversários, mas jamais devemos detonar seus apoiadores e simpatizantes. Existem incontáveis motivos para isso; é impossível discorrer sobre todos eles, então decidi comentar apenas dois. Em curtíssimo prazo, o batismo representa enorme arsenal para o candidato dos supostos “fascistas” galvanizar seus partidários – e os parentes e amigos desses. Em médio e longo prazos, os autores do batismo estão alienando-se de ser uma opção política para milhões de brasileiros que hoje apoiam Bolsonaro, mas não são defensores consolidados e ferrenhos da sua pregação – estão apenas de saco cheio de estarem de saco cheio!

Muitos de nós não quisemos ver, mas Hillary já havia nos ensinado isso ao decretar: “Daria para colocar metade dos apoiadores de Trump no que chamo de cesta de deploráveis. Certo? Racistas, sexistas, homofóbicos, xenófobos, islamofóbicos – tem de tudo”. E para completar a aula, ela acrescentou: “Algumas dessas pessoas são irremediáveis”. O “irremediável” exibe ausência de compaixão humana em qualquer religião que se professe, e é extremamente grave por si só, embora o erro seja ainda mais abrangente. Vale também lembrar que durante as Primárias Hillary já havia ensaiado tal hecatombe, quando definiu todos os eleitores de seu adversário Bernie Sanders, eleitores do seu próprio partido Democrata, como um “balde de perdedores”.

Em síntese, ideologicamente esse arrogante comportamento do PT e de parte da esquerda brasileira de “fascistisar” tudo “que não é espelho”, é uma nítida evidência de intolerância, portanto, de fascismo. Politicamente, o conjunto da obra se compara a um dispositivo de autoimplosão.

Então, o que de fato está acontecendo nesta eleição brasileira é sabiamente explicado no conceito descrito pelo jornalista e autor Malcolm Gladwell em ”O ponto da virada: como pequenas coisas podem fazer uma grande diferença”. Ou seja, o legado de coisas negativas produzidas pelos mais ferrenhos adversários de Bolsonaro, se acumulou em uma pilha tão gigantesca, que não pôde mais ser equilibrada ou sustentada, resultando em um abrangente colapso.

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Bolsonaro, Trump e a miopia dos Especialistas!

Brasil e EUA têm inúmeras diferenças e semelhanças; Bolsonaro e Trump também as têm. No que tange às semelhanças, vou me restringir a apenas uma dúzia delas:

  1. Representam um sentimento de saturação com o “politicamente correto”;
  2. São personalidades demais controversas, líderes de um populismo de direita;
  3. Rebatem a imprensa sem receio e de igual para igual;
  4. Transmitem suas mensagens de modo simples, claro e objetivo;
  5. Se apresentam como independentes e destemidos agentes de mudança;
  6. Abraçam sem constrangimentos suas posições mais polêmicas;
  7. Levantam a bandeira de defensores da família tradicional;
  8. Expressam repúdio às desordens civis e defendem medidas duras para a prevalência da lei e da ordem;
  9. Se comprometem a restaurar a honestidade na política;
  10. Priorizam manter o alto entusiasmo dos seguidores, não se importando em serem superficiais;
  11. Se colocam como líderes sinceros e genuínos, que falam na lata suas opiniōes;
  12. Tiram proveito de um envelhecimento cronológico e mental de vários líderes politicos nacionais.

Bolsonaro parece ter compreendido—assim como Trump o fez—que esse conjunto acima gera profunda admiração e lealdade suprema por parte dos seguidores; e isso nos leva a duas observações.

Um, parte desses admiradores-seguidores votarão em segredo a fim de evitar possível condenação social. Isso fará com que Bolsonaro tenha mais votos do que as pesquisas demonstrarão.

Dois, iludidos os que acham que o índice de rejeição dele é a certeza de que seu teto o excluirá do páreo. Representando a indignação de admiradores-seguidores leais e eufóricos, Bolsonaro precisa apenas repetir Trump e sua estratégia que batizei de “100% de seus 100%”.

Morando na capital dos EUA, eu vivi cada um dos 511 dias da campanha de Donald Trump para Presidente. Me lembro bem quando a mídia, os especialistas liberais, o Presidente Obama e todos os Democratas elegeram Trump como o candidato Republicano perfeito para ser esmagado pela 1a mulher Presidente. Com o andar da carruagem, a galhofa geral virou reflexão, daí preocupação, depois medo, seguido pelo pânico. O resultado nós conhecemos.

Aqui no nosso querido Brasil, se o retrato acima será suficiente para fazer Bolsonaro subir a rampa do Palácio do Planalto, ainda é cedo para saber. Via de regra, nós de fato nunca sabemos o que vai acontecer; mas uma coisa eu afirmo: os especialistas estão constantemente errados. Uma das razōes para isso é o que em inglês se chama “confirmation bias”—e um salutar antídoto para essa armadilha psicológica é assumir um “beginner’s mindset”. Humildade é imperativo, sempre!